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 A lenda do Caramuru

 Prefácio

Sete grandes telas, verdadeiros afrescos, que reinventam a lenda e propõem uma viagem através do mito de Caramuru, fundador e construtor do Estado da Bahia.

Coloquei todo o meu coração, minha paixão e minhas fantasias neste trabalho. Tudo para resgatar a lenda, uma história que me diz respeito, mas também pertence a todos.

Em Boipeba, onde naufragou o barco de Diogo Alvarez, a trajetória de Caramuru é conhecida por muitos: ela é transmitida oralmente.

Em Outubro do ano passado, alugamos uma pequena casa em Boipeba, no bairro de Areal, em pleno centro da cidade. Naquele quintal, estendi alguns varais e pendurei as pinturas que recontam a lenda.

As crianças as rodeavam, eu as explicava. Os pequenos me ajudaram a compreender melhor a ilha e a vida por ali.

Durante a aula de capoeira, nós espalhamos as pinturas pelo chão; falei sobre elas e, em seguida, cada um acrescentou algo, com suas próprias palavras.

Depois, com os adolescentes, na apresentação da escola, tivemos vontade de dançar sobre as imagens.

Em Moreré, outra vez as pinturas foram apresentadas. De novo, no chão... ali na areia, mesmo. Até que, finalmente, elas ganharam seu espaço: foram penduradas nas paredes da casa de madeira de Berimbau. De lá, não saíram mais.

  

Antes de retornar à Paris, fizemos uma visita ao Mestre Lua e a sua esposa, Marijo. Todos juntos no Pelourinho, em Salvador. Lua me contou sobre os ateliers de “pipas” que ele faz com as crianças. E a idéia começou a germinar...

tudo para ir mais além, recontar a história várias vezes. Para mergulhar no que existe de mais precioso, nas raízes, no saber ancestral, para fazê-lo presente, guardá-lo. Certamente, o projeto nos fará reencontrar, por meio dessa bela e misteriosa história, a origem de toda essa caminhada, as raízes mais antigas não apenas da Ilha, mas da fundação do estado da Bahia.

Nosso projeto promoverá a concepção de livros e ateliers de conto “Caramuru”: recitar a historia, dançar, cantar, brincar e, através destas atividades, resgatar a história dos habitantes da Ilha, tanto crianças quanto adultos baianos.

Em fevereiro deste ano, voltei a Boipeba. Eu editei um esboço do pequeno livro. Apenas alguns exemplares, seguindo o modelo dos folhetos de cordel. Tão logo eu os distribuí, percebi que aqueles livretos eram lidos (devorados) facilmente. Mais do que isso, vi que eles despertavam o interesse das pessoas: tinham vontade de ir mais além...

Com a ajuda de Catita Pereira Almeida, diretora da escola  Rural Sementes, começamos a pensar em como avançar para desenvolver esse projeto. E conseguimos o aval de Gutulio Alcântara Coutinho, natural de Boibepa, que aceitou ser o proponente do projeto.

Agnès Bague-Forst

Março 2009